terça-feira, 24 de dezembro de 2013

conclusões à mesa de madeira (via vodcabarata.blogspot.com)

se camões tivesse dito
que viver é impreciso
eu teria entendido.

camões seu filho
da puta foi dizer
que viver não
é preciso

entendi errado
virei niilista
perdi três namorados.

vai ok (nanacae.blogspot.com)

"Existem pessoas que sempre são tristes por dentro. Eventualmente algumas mostram. E não precisa ter nada de errado pra isso acontecer, muito menos você insistir em um porquê."

sobre o que sinto.

depois de tantos anos
ainda resta o vazio
de todos os sentimentos
como se fosse explosão
e de tudo sobre nada
e vem sem avisar
as vezes demora
dói
feito
faca
no peito
machuca
o sujeito
e aí passa
que é pra você nao se acostumar


"Meu coração não se cansa
De ter esperança
De um dia ser tudo o que quer
Meu coração de criança
Não é só a lembrança
De um vulto feliz de mulher
Que passou por meus sonhos
Sem dizer adeus
E fez dos olhos meus
Um chorar mais sem fim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim"

~e não é que caê descreveu assim o que eu sentia?~

e volta e meia ainda me pego destrinchando a minha melancolia em favor de nada, em razão de nada e pelos mesmos motivos.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A Flor e a Náusea
Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cizenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
( Carlos Drummond de Andrade)

domingo, 15 de dezembro de 2013

Sobre nós (intimamente)

(ao amado)

Ter-te atravessado
em meu peito
atravessado
em teu leito

Observar-te
de alma nua
tecendo momentos
à luz da lua

Pensar em ti
ao acordar
e antes
de dormir

Abraçar tuas certezas
dissolver tuas friezas
aquiescer m(t)eu coração
ao embalar-me numa canção

(teus olhos cruzam os meus
sinto.
te sinto
me sinto
nos sinto)

E quando hei de ir-me embora
atordoada pela hora
te deixo um pouco de mim
te levo um pouco comigo.

guardando

Quando foi que descruzaram-se os nossos caminhos?
Que em ódio transformou-se o nosso brilho?
Que me olhas, assim, tão distante?
Como posso eu agir, se vejo
ao longe
e nem mesmo poderei tocar-te?
Nem por um segundo
pra guardar na lembrança

Mas te vejo e o coração 'inda dispara
tua presença que ainda me conforta
teu silêncio tão a mim direcionado
arde
dentro
de
meu
peito

Minhas memórias me atordoam
penso em ti
todos
os
dias

Ainda que apagues
dentro de mim
haverá
e é intocado
e tu não
des
tru
i

Ócio

Olha o tempo
tapa a tapa
bate a hora
bate a data

Olha o tempo
que demora
passa o tempo
arrasta a hora

Sem relógio
sem medida
pisca o olho
acaba a vida

Um segundo
de repente
são dez vidas
lá na mente

O ponteiro
tá contando
tá de ré?
se arrastando?
"(...)considerando-se que o sujeito criador não deve ser subjugado por nenhuma força externa, sob pena de ser diminuído em sua capacidade de instaurar sentidos novos à língua. É preciso perceber que Gilberto Gil, ao propor a absoluta soberania do poeta, está discorrendo, implicitamente, sobre constantes ameaças que a literatura sofre: a banalização da indústria cultural, dos meios de comunicação, o mercado capitalista, dentre outras instituiçoes poderosas que não respeitam o arbítrio estético"

Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível

Uma meta existe para ser um alvo

Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível

Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível

Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora



Pela lâmina da foice
Foi-se.
Entre Quasares & Supernovas.
Por: Laureano Junior
DE L.J. | PARA L.B. |

Sou um cosmonauta, leve, solto, deslizando deliciosamente pelo espaço.
Ela, é o universo.
Estou perdido em sua imensidão. Fascinado com cada ponto brilhante em todo o infinito. Cada passo de dança das órbitas planetárias. Cada nebulosa que em seu ventre concebe uma estrela.

Há uma nebulosa em mim.

E sua cria, como uma ogiva de antimatéria, neutralizou o buraco negro que consumia tudo em meu peito. Como consequência, há um rasgo dimensional que criamos.

Aparentemente temos o poder de dobrar o tempo.

Que parece que não existe. As horas mais segundais de nossas vidas. Os dias mais mensais.

Calendário não faz sentido para nosso espaço profundo.

Já pra mim, veterano cosmonauta, aparentemente tudo, só agora, faz sentido.

Só agora eu entendo como duas galáxias podem se chocar e suas forças gravitacionais a transformarem em apenas uma.

Estando eu, aqui, perdido nela, somos apenas um.

Estou com ela.

Estou entre quasares e supernovas.

Apostando corrida em cinturão de asteroides. Chupando Plutão como Pirulito POP.

Estou livre.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Verborragia


Não tinha mais esperanças porque tudo já estava claro, imaginado. Seguia os dias, mas já parara de cronometrar o tempo. Tinha esquecido a utilidade dele. E se arrastava entre as obrigações do cotidiano, sem nem uma faísca de expectação. A vida não amolecia pra ninguem, muito pelo contrário, sugava ao máximo, as forças, o otimismo, a vontade. A vida era vagarosa a seu bel prazer. Traiçoeira e vingativa. As pessoas eram como os felinos. Cheias de cascas e máscaras e mentiras e trapaças e dramas superfaturados. Mas faltava paciência. Para os clichês, para as instituições, para a familía, a universidade, as amizades e principalmente o amor. Perdera o medo e percebeu-se livre. A liberdade leva finalmente paz ao espírito, ainda que você esteja se arrastando na própria vida. Se desfalecendo, se despedaçando. Percebeu que não tinha ali nenhum motivo para o sentir. Por todas as vezes que foi dilacerado pelos seus, que foi humilhado e esfaqueado, viu-se só. Eis que Augusto já havia revelado que “Somente a ingratidão – esta pantera – Foi tua companheira inseparável”. E até por isso foi punido, por deus e os homens que são a imagem de deus. A falta de fé foi coroá-lo hereje e seu não-crer também incomodava ao redor.  Incomodava o seu jeito de falar, andar, vestir, o lado para o qual penteava o cabelo ou mesmo a marca do xampu. Quantas são as contradições humanas. Quantos são os desalentos aos desajustados.

Contaminando a esfera pública

Pronto, voltou. Logo hoje que percebi que estava sã. Logo hoje que me alegrei de mim, me percebi feliz, assim.


Pois é, voltou. Os pequenos demônios resolvem brigar de novo, fazer do meu inferno o inferno. Tudo ali, dentro


da minha cabeça. Eu não consigo impor nada, não consigo expulsar ninguém, e a balada tá rolando ali do lado do


cerebelo. E o rock tá massa, agitando os meus neurônios. E eu não me concentro, e eu já não consigo fazer nada.


Que tipo de pessoa não consegue cumprir as próprias resoluções? Como é que não se pode confiar em si mesmo?


Porque eu não consigo me desvincilhar das minhas crises pessoais? Ah.. a minha confusão privada...Que seria dela


sem mim? O que seria de mim sem ela?

O dia amanheceu bonito. Eu não. Acordei meio assim, de qualquer jeito, me vesti de qualquer
jeito. Cheguei desejando sossego. O sol da manhã lava a alma. Me senti melhor, mas não me
senti bem. Não sei ao certo o que é isso. Receio não poder definir.
Hoje eu abri os olhos e tornei a fechá-los. Não queria ver nada e não podia deixar de ver.
Pra essa vida tem que ter estômago. Pra aguentar essas coisas todas ao redor.
As pessoas, cacarejando feito galinhas. Dentro da minha cabeça, fora da minha cabeça,
virando copos e copos de cerveja. Dá pra perceber daqui a miserabilidade do mundo.
Tanto quanto eu me sinto agora. Estamos todos desesperados pelos mais variados motivos.
Por contato social, desesperados pelos nossos respectivos dramas pessoais, desesperados
por afeto, contato.
As horas estão passando e eu não vejo o tempo. Não me fale do tempo. Não tenho forças
para lidar com a bomba-relógio da vida. Só deixo os segundos correrem com a ilusão de que
voltarão no próximo minuto. E segue a vida, um dia de cada vez.

25 de Dezembro

25 de Dezembro, aniversário de deus.
25 de Dezembro, meu aniversário.
Sentir-me-ei agraciada?
O garotinho a chorar na manjedoura ofuscou-me por toda a vida.
Aproveitou-se do meu dia.
Meu aniversário, justo no meu aniversário.
O dia ímpar, que no ano, faria sentido em sentir-me especial.
25 de dezembro
Feliz Natal.
Feliz ‘Vou viajar’
Feliz ‘Prefiro passar esta data junto aos familiares’’
Feliz ‘Estava de ressaca, perdoe-me’
Feliz ‘Poxa, esqueci-me, sabes como são essas festas de fim de ano’
Feliz ‘Vamos comemorar? Mas onde? Não tem nenhum bar aberto.’
25 de Dezembro
O velho Noel. A hipotética neve. As luzes cintilando.
25 de dezembro e eu nem sou eu.
Quando é o aniversário de Mefisto?

egoísmo felicitatório e outras lombras.

Cada dia é uma vida inteira. Odeio as continuações, o volume dois do filme favorito, o acumulo de dramas do cotidiano, os resquícios do sentimentalismo e as dores irremediaveis. Cada noite é um suicídio. É pensar em si e apagar tudo de si. Junto com o sol nascem infinitas possibilidades. E dali, a vontade de fazer diferente. É se imaginar como a própria vontade de ser. E sorrir para o cadáver de si mesmo sem a mendicância de calores e afetos. E lidar consigo, e reduzir os surtos a cada 24 horas. E chorar quando convém sem sentir o peso das responsabilidades. E gritar o próprio nome caso houver necessidade. E ter em si um acalanto às próprias dores. Um avassalador escape para o próprio ego. Não se importar com consequências redundantes. Ferir sem pensar nas cicatrizes. Adoecer no asfalto das desilusões e ainda assim sobreviver ao crepúsculo das errôneas escolhas sem atordoar-se das felicidades. É seguir sem rumo e ter força de vontade. É driblar a sarjeta em busca do nirvana.

"no sol e na chuva
e no dia e na noite

dor é uma flor
dor são as flores

florescendo o tempo todo."

bukowski

Despedida

Amanheceu nublado. Justo nessas manhãs que a gente precisa de sol. Abri a janela pra deixar a (pouca) luz entrar. Precisava observá-lo. Vê-lo dormir profundamente enquanto a manhã chegava. Sabia que era a ultima vez que eu estaria ali. E quis ir embora, assim furtiva, por já não mais saber lidar com as despedidas. Tem coisas que nunca se aprende.
''O ser humano é estômago e sexo, e tem diante de si uma condenação. Terá obrigatoriamente de ser livre, mas ele mata e se mata com medo de viver. Por isso meus olhos estão cegos para não enxergar a gosma desses pecadores. Meus ouvidos escutam uma voz que diz: morrer não dói, morrer não dói. Estamos todos condenados. Eternamente condenados. Condenados a ser livres.''

O beijo

Foi o beijo mais cheio de desejo. As faíscas atingiram o corpo inteiro. Tudo era luz. O cenário apagou-se. De repente não estávamos mais em lugar nenhum. Era eu, ele, e o beijo. Mais nada.
Foi impossível não comparar todos os beijos com aquele. Que nunca se repetiu, nem com ele. Foi o nirvana para mim. E todas as buscas incessantes de plenitude na vida se resumem a um momento ao menos parecido com aquele.
Que não chegará nunca, de fato. Pois a plenitude da vida foi aquele beijo.

Humanitas


A humanidade está gritando. Gritando, porém, dividida em pedaços. Cada ser humano levanta ou repele a sua bandeira. Cada bandeira se agita em seu brado.
A humanidade é egoísta.
A humanidade é individualista.
A humanidade só pensa em si.
O homem, solitário, nasce e morre só.

Cotidiano

Certa noite, voltando da rua, voltando de bares, voltando pra casa, subindo as escadas, pensando na vida. Me dei conta de que sempre trazia comigo algum arrependimento. Na maior parte das vezes me arrependia de ter saído de casa. Mas ficar sozinha é lidar comigo mesmo e eu nunca estive preparada para isso. Outras vezes era por não ter bebido o suficiente e ter vivido a realidade crua, intensa. Os finais de semana são dolorosos. Parece que faço parte de um mundo onde tudo converge para o ritual do acasalamento, ou uma competição de quem ficará mais chapado. E eu só busco algo diferente que me tire do tédio de existir. Pode ser desde alguém mui belo até meia dúzia de frases interessantes, ou apenas mais uma garrafa sobre a mesa.

Felicidade

Eu tenho medo. Eu sempre corri contra isso, porque eu tenho fobia de ser feliz. É como se a cada segundo eu esperasse acontecer uma tragedia. Eu tenho me sentido constantemente feliz. E tô morrendo de medo.

Burocracia simplista

Num mundo desses, cheio de burocracias, ainda não inventaram de inventar uma legislação para o amor. Com regras personalizadas e contrato assinado - multa para desistências - data e horário marcado - desmarcar mediante justificativa e atestado. Bem mais fácil, menos utópico que o inviável clichê: na saúde e na doença até que a morte vos separe.

Tempo

Venho até aqui dizer para vocês algo que tem me tirado do sério. Todos os dias, na hora da sesta, saio do meu emprego e vou até a praça. Lá, sento-me sempre ao mesmo banco, para degustar o mesmo sanduíche frio, fumar sempre dois cigarros e observar as pessoas que passam, apressadas e fugazes, para os mais diversos e imagináveis destinos.
Eis que num banco longíquo do outro lado da praça surge sempre um rapazote, bebericando um misterioso líquido, rabiscando um caderno. Me chama a atenção um rapaz tão jovem com um horário tão regular estar sempre compenetrado perante a caneta, posto a escrever, como se fosse sozinho no mundo, como se uma multidão frenética não cruzasse o seu caminho, como se a vida não fosse um eterno tic-tac até a morte.
Esses olhos, jovens, solitários, despertam em mim queridas lembranças. Esse jovem sou eu quando a mocidade ainda era amiga, hoje velha lembrança distante e saudosa. Ele sou eu no passado. E eu sou ele amanhã.

Vida

O dia amanheceu bonito. Eu não. Acordei meio assim, de qualquer jeito, me vesti de qualquer jeito. Cheguei desejando sossego. O sol da manhã lava a alma. Me senti melhor, mas não me senti bem. Não sei ao certo o que é isso. Receio não poder definir.
Hoje eu abri os olhos e tornei a fechá-los. Não queria ver nada e não podia deixar de ver.
Pra essa vida tem que ter estômago. Pra aguentar essas coisas todas ao redor.
As pessoas, cacarejando feito galinhas. Dentro da minha cabeça, fora da minha cabeça, virando copos e copos de cerveja. Dá pra perceber daqui a miserabilidade do mundo.
Tanto quanto eu me sinto agora.
Estamos todos desesperados pelos mais variados motivos. Por contato social, desesperados pelos nossos respectivos dramas pessoais, desesperados por afeto, contato. 
As horas estão passando e eu não vejo o tempo. Não me fale do tempo. Não tenho forças para lidar com a bomba-relógio da vida. Só deixo os segundos correrem com a ilusão de que voltarão no próximo minuto.
E segue a vida, um dia de cada vez.

A mal-cheirosa tragédia comum

A caótica existência do ser humano é sempre recheada de reações exageradas com motivações que apontam o que sequer são problemáticas.
É triste, triste ver o não amadurecimento do homo sapiens, com todo o seu potencial subversivo. 'Todo malandro tem seu dia de otário', dizia. 
Viver achando que de tudo sabe, que observa e entende e aprende, mas não passa de um ser incapaz quando o assunto é pensar em si.
Eis o ser humano. Todo melado de bosta.