sábado, 2 de agosto de 2014



esse amor foi feito árvore.

sem querer esbarrei nela.

e tinha sombra.

e caiu fruto.

e era bom.

me lambuzei.


tem amor que a gente planta, rega, aduba e senta pra esperar florescer.

pela semente não dá pra ver a longevidade da árvore.

nem a qualidade de seus possíveis frutos.
ou mesmo se haverá sombra abundante.

às vezes não dá nada.
e a gente rega, aduba, poda.
ela até dá as primeiras flores.
e então murcha, seca, encolhe.

esse amor é terra fértil.
é árvore centenária.


Escrevo para me libertar de insólitos pensamentos que então me atordoam.

Me liberto quando a estes dou a liberdade de escapar de mim.

Pouco a pouco, em fila indiana, saem encarrilhados.

Milhares de fantasmas assombrados.

Esperanças embriagadas.

Sonhos frustrados.




Descarrego dando choques quase-mortais.

Materializando-os em marcas de grafite no papel.

Faço com que me encarem.
Para que a cega faca da dor não se corrompa em ferrugem.

Escrevo para acalentar os meus males.
Males mal-alimentados
Que embalo com carinho
E coloco pra dormir
E que acordam quando menos convém.

Escrevo para exorcizar-me.
(mas no momento seguinte eles irão me possuir novamente).


Havia estancado aos montes. Dia após dia, suprimia e juntava ali no canto da parede.

Me torturava. Sentia corroer dentro de mim o baque surdo do meu grito desesperado.

Cartas e cartas escrevi com lágrimas em papel higiênico de banheiros públicos.

Rasguei na pele a súplica derradeira, tão inocente quanto deus.

Assinei contratos e atestados de culpas que não eram minhas.

Tive pesadelos com os meus monstros particulares.
Fugi correndo dos olhares inquisidores
E das feições afáveis
Contradizendo todas as minhas antigas palavras
Que estavam tão bem abrigadas num baú de inutilidades.
Rasguei livros e dinheiro
Joguei aos céus meus tesouros
Dilacerei a vaidade
Pintei de vermelho as unhas da solidão
E fiquei sozinha gritando para as paredes.

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